quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

CAROLINA MARIA DE JESUS: A escrita em turbilhão




Este documentário diz respeito da proposta em trabalhar "marcas, rasuras, fragmentos" de Carolina de Jesus, contidos em seu romance "Quarto de despejo". Quem melhor que  catadores e moradores de comunidades periféricas para metaforizar o que foi a Carolina?
Um pouco de seus dramas, angústias, a força que encontrava na forma poética de traçar
um cotidiano marcado pela fome e pela falta, mas também pela luta, esperança e resistência.
A resistência de se inscrever no que escreve. De problematizar o poder público, ampliar a concepção micro de favelado. De objeto a sujeito do próprio discurso.

Eis parcelas de construções que têm sido constituídas por meio de olhares atentos quer a
modo de produção, a linguagem, a subjetividade, ao feminismo negro da autora, a crítica social, a esteótipos e desconstruções, a possibilidade de trabalho na escola básica.

No ponto de vista estrutura, algumas questões podem auxiliar a estas pesquisas, dentre as quais, dicas baseadas na leitura de dois livros, "Como organizar as idéias" e "Como construir trabalhos científicos".Afinal, como construir um texto?
Não objetivando trazer respostas prontas, mas possibilidades,
elencaremos ideias de Edvaldo Boaventura em "Como organizar
as idéias" que provavelmente auxiliarão nesta laborosa e prazeirosa
tarefa de construir e reconstruir "usos e sentidos".

Segue um plano de pesquisa, baseado no livro de Jorge dos Santos Martins,
"Como construir trabalhos científicos".


Plano de pesquisa


Introdução:

- O que pretendo estudar ou pesquisar? (definir assunto)
- Por que estudá-lo ou abordá-lo? (Problematização)
- Por que escolhi esse tema? (Critérios usados na escolha)
- Que fazer com o tema (Delimitar sua extensão ou reduzi-lo)
- Que devo mostrar desse tema? (Ponto de vista)
- Como poderei estudá-lo? (Metodologia)
- Que pretendo alcançar com o estudo? (Objetivos)


Em desenvolvimento:

- Como sustentar o ponto de vista? (Explicações, informações, citações)
- Como argumentar? (aciocínios lógicos, indução, dedução)


Conclusão:

- Como encerrar o texto? (com uma síntese, sugestão, lições)

Estruturação básica:

a) Escolha e delimitação do assunto temático;
b) Dados informativos sobre o assunto;
c) Elaboração, análise e tratamento dos dados obtidos;
d) Deduções conclusivas e comentários.


Estudando a negritude e suas interfaces na literatura, em especial na poesia, alguns textos teóricos deram subsídios a discussões em sala, dentre os quais:

20/10 – DEMOCRATIZAÇÃO NO BRASIL: 1979-1981 (CULTURA VERSUS ARTE), SILVIANO SANTIAGO; (EQUIPE 01); Débora, Camila, Juliana e Nilton

27/10 –LITERATURA NEGRA, LITERATURA AFRO-BRASILEIRA, DE NAZARETH SOARES FONSECA ; (EQUIPE 02); Carmelice, Erimonica, Juyane e Eliana

10/11 – INTERAÇÕES CONTINENTAIS: A QUESTÃO DA RAÇA NAS CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DAS VANGUARDAS, DE EURÍDICE FIGUEIRÊDO (EQUIPE 03); Meire Jane
 
24/11 –  O QUE É NEGRITUDE, ZILÁ BERND (EQUIPE 04); Anderson, Tássia, Lizânia e Lis

01/12 – A FORMAÇÃO DE UM INTELECTUAL DIASPÓRICO, EM DA DIÁSPORA, STUART HALL (EQUIPE 05); Marluce, Michelle e  Daiane 


E textos literários, tanto em poesia, quanto em música e prosa, apresentados neste site.

Sou Negro - Solano Trindade

      meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...
[1]


[1] TRINDADE, Solano. Sou negro. In: Cantares ao meu povo. Ed. Brasiliense, 1981, p.32. 


Solano Trindade nasceu em 1908, na cidade de Recife, e morreu em 1974, São Paulo. Poeta negro, pernambucano, filho de mãe quituteira e pai sapateiro, pesquisador de tradições populares brasileiras[1] foi também ativista político e homem de teatro. Participou dos históricos congressos afro-brasileiros realizados em 1934 e em 1937, respectivamente, em Recife e em Salvador. Criador da Frente Negra de Pernambuco e do Centro de Cultura Afro-Brasileira, estruturou em Pelotas, RS, um grupo de arte popular já existente, transformando-o, em 1943, no Teatro Popular Brasileiro. É impossível falar de Solano Trindade sem falar da negritude, movimento praticado no Brasil, dentre outras questões, quando Abdias do Nascimento e Solano Trindade fundam o Teatro Experimental do Negro (TEN), cuja nomenclatura e ideologia pautam-se na afirmação da identidade afro, lançando um desafio aberto à hegemonia mestiça que desfilava como simulacro da brancura.[2] Publicou as obras: Cantares ao meu povo e Tem gente com fome.




[1] Fonseca, Nazareth; Jovino, Ione; Machado, Vanda; Oliveira, Sílvio. Autores Afro-Brasileiros Contemporâneos. In SOUZA, Florentina; LIMA, Nazaré. Literatura Afro-brasileira, 2006, p. 141.
[2] NASCIMENTO, Elisa Larkin. Teatro Experimental do Negro. In: O sortilégio da cor: identidade, raça e gênero no Brasil. São Paulo: Summus, 2003.

Eu também sou América – Langston Hughes

                                                      Eu também canto a América

Eu sou irmão negro

Eles me mandam comer na cozinha
Quando chegam as visitas
Mas eu rio,
E como bem,
E cresço forte.

Amanhã
Eu estarei na mesa
Quando as visitas vierem
Ninguém ousará dizer-me
"Vá comer na cozinha".

Então.
Além disso
Eles verão como eu sou bonito
E terão vergonha.

Eu também sou América.[1]
 
 


Tradução de Zilá BerndI, too, sing America”./ I am the darker brother./They send me to eat in the kitchen/ When company comes,/ But I laugh,/ And eat well,/ And grow strong./ Tomorrow,/ I'll be at the table/  When company comes./ Nobody'll dare/ Say to me/ "Eat in the kitchen",/ Then./ Besides,/ They'll see how beautiful I am/ And be ashamed -/ I, too, am America.
 
 
Langston Hughes(1902-67) foi um dos expoentes de movimentos de afirmação de ser negro, como o Renascimento do Harlem (1920-1940) que surge em prol da liberdade de expressão; da defesa pelo direito ao emprego, ao amor, à igualdade, ao respeito, a cultura ancestral, ao passado de sofrimento, a origem africana.[1] Escritor de maior destaque deste movimento é tido como precursor da negritude de língua inglesa. Filho de mãe negra e pai branco, poeta popular, contista, romancista, cronista e dramaturgo, nasceu em Joplin, Missouri e viveu em vários lugares na infância, Kansas, e no Colorado. Posteriormente, migra para o México e Nova Iorque. A sua avó materna teve uma importância bem significativa em sua militância, pois, em meio ao preconceito racial que sofria, ela o incentivava a ter orgulho de sua ancestralidade.


[1] MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos, 1986, p. 37.


o rap - Mc Osmar

 (aqui é o som cumpadi)
eu sou o som que vem das ruas, a realidade dura  e crua do gueto com arte e entretenimento.                  
a voz de uma cultura em movimento e o negro lamento.
sou abdias nascimento.
eu invadi os centros   mas nasci na periferia.
eu vim do sofrimento com ritmo e poesia.
eu vim na luz de um novo rebento de um ventre livre, meus ancestrais foram presos e minha geração em crises desencaminha.
assim como caminha a humanidade de esquina em esquina.
sou injeção de  adrenalina, uma dose elevada de auto estima, o verdadeiro dom da rima.
o embate, o combate, o nocaute, liberação de indofina.
sou   táticas de guerrilha e as armas pra revolução, as palavras de ordem que lideram a manifestação.
to no discurso e na ação, na luta por reparação.
eu sou chamado de som de ladrão e tenho cara de mal.
meu texto prega conscientização de forma criminal.
a  libertação mental dos meus irmãos e o apoio incondicional pra redenção dos humildes.
sou inimigo da televisão e sua programação medíocre.
(e o dono de concessão que age sem limite)
eu sou a força do irmão que salvou do crime, a salvação do pivete que livrou do piti.
eu sou sampler, o scretch e o beat.
já estou em trilhas sonoras de filmes.
em jingles comerciais, em novelas, em campanhas eleitorais, em desfiles nas passarelas do são paulo feshion weeke.
mais eu sou favela em cada célula do corpo.
na dor do meu parceiro morto.
to estampado no seu rosto, eu to exposto nas suas seqüelas.
eu sou despertar da consciência periférica, a ciência estratégica.
sou planos e esquemas de guerra.
to no combate sem dá trégua até que o inimigo beije a lona assim como a platéia ansiosa espera.
eu sou o som de uma nova era, uma nova ordem, um novo grito.
um novo conceito, outros meios menos primitivos de nos mantermos vivos e atuantes.
longe dos presídios sem treta, policia e traficante em seus modos operantes.
sem vestígios ou indícios de algoz entorpecido.
sou aquilo que lhe mantém ativo.
como um vulcão em erupção meu efeito é nocivo.
reativo como um soldado que tão cansado de ser oprimido atira no seu capitão e rasga as suas fardas.
adere a   rebelião e segue e passeata.
faz protesto e manifestação junto aos irmãos na caminhada.
e quem tem o cheiro da quebrada impregnado em sua pele.
eu sou parte de você e ainda que você me negue. (o que é que eu sou cumpadi?) eu sou o rap. 


Composição: Mc Osmar  

Pelo Telefone - Martinho da Vila

O Chefe da Polícia
Pelo telefone manda me avisar
Que na carioca tem uma roleta
para se jogar (2x)

Ai, ai, ai
Deixa as mágoas para trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás (2x)

Tomara que tu apanhes
Pra nunca mais fazer isso
Provar amores dos outros
E depois fazer feitiço

Olha a rolinha, Sinhô, Sinhô
Se embaraçou, Sinhô, Sinhô
Caiu no laço, Sinhô, Sinhô
Do nosso amor, Sinhô, Sinhô
Porque este samba, Sinhô, Sinhô
É de arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe perna bamba, Sinhô, Sinhô
Mas faz gozar, Sinhô, Sinhô

O “Peru” me disse
Se o “Morcego” visse
Não fazer tolice
Que eu não saísse
Dessa esquisitice
Do disse-me-disse (2x)

Ai, ai, ai
Deixa as mágoas para trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás (2x)

Queres ou não, Sinhô, Sinhô
Vir pro cordão, Sinhô, Sinhô
Ser folião, Sinhô, Sinhô
De coração, Sinhô, Sinhô
Porque este samba, Sinhô, Sinhô
É de arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe perna bamba, Sinhô, Sinhô
Mas faz gozar, Sinhô, Sinhô


Composição: Donga/Mauro de Almeida (1916)/ Noel Rosa  




Manuel Rui: Eu e o outro – o invasor ou em poucas três linhas uma maneira de pensar o texto

Quando chegaste mais velhos contavam estórias. Tudo estava no seu lugar. A água. O som. A luz. Na nossa harmonia. O texto oral. E só era texto não apenas pela fala mas porque havia árvores, parrelas sobre o crepitar de braços da floresta. E era texto porque havia gesto. Texto porque havia dança. Texto porque havia ritual. Texto falado ouvido visto. É certo que podias ter pedido para ouvir e ver as estórias que os mais velhos contavam quando chegaste! Mas não! Preferiste disparar os canhões. A partir daí comecei a pensar que tu não eras tu, mas outro, por me parecer difícil aceitar que da tua identidade fazia parte esse projeto de chegar e bombardear o meu texto. Mais tarde viria a constatar que detinhas mais outra arma poderosa além do canhão: a escrita. E que também sistematicamente no texto que fazias escrito inventavas destruir o meu texto ouvido e visto. Eu sou eu e a minha identidade nunca a havia pensado integrando a destruição do que não me pertence.

Agora sinto vontade de me apoderar do teu canhão, desmontá-lo peça a peça, refazê-lo e disparar não contra o teu texto não na intenção de o liquidar mas para exterminar dele a parte que me agride. Afinal assim identificando-me sempre eu, até posso ajudar-te à busca de uma identidade em que sejas tu quando eu te olho, em vez de seres o outro.

Para fazer isto eu tenho que transformar e transformo-me. Assim na minha oratura para além das estórias antigas na memória do tempo eu vou passar a incluir-te. Vou inventar novas estórias. Por exemplo o espantalho silencioso que coloco na lavra para os pássaros não me comerem a massambala passa a ser o outro que não fazia parte do texto. Também vou substituir a surucucu cobra maldita. Surucucu passa a ser o outro. E a cobra no meu texto inventado agora passa a ser bela e pacífica se morder o outro com o seu veneno mortal.

E agora o meu texto se ele trouxe a escrita?  O meu texto tem que se manter assim oraturizado e oraturizante. Se eu perco a cosmicidade do rito perco a luta. Ah! Não tinha reparado. Afinal isto é uma luta. E eu não posso retirar do meu texto a arma principal. A identidade. Se o fizer deixo de ser eu e fico outro, aliás como o outro quer. Então vou preservar o meu texto, engrossá-lo mais ainda de cantos guerreiros. Mas a escrita? A escrita. Finalmente apodero-me dela.  E agora? Vou passar o  meu texto  oral  para a  escrita?  Não. É que a partir do movimento em que eu  o  transferir  para o  espaço da  folha branca, ele quase morre.

Não tem árvores. Não tem ritual. Não tem as crianças sentadas segundo o quadro comunitário estabelecido.m som. Não tem dança.  Não tem braços. Não tem olhos.  Não tem bocas. O texto são bocas negras na escrita quase redundam num mutismo sobre a folha branca. O texto oral tem vezes que só pode ser falado por alguns de nós. E há palavras que só alguns de nós podem ouvir. No texto escrito posso liquidar este código aglutinador. Outra arma secreta para combater o outro e impedir que ele me descodifique para depois me destruir.

Como escrever a história, o poema, o provérbio sobre a folha branca? Saltando pura e simplesmente da fala para a escrita e submetendo-me ao rigor do código que a escrita já comporta? Isso não. No texto oral já disse: não toco e não o deixo minar pela escrita, arma que eu conquistei ao outro. Não posso matar o meu texto com a arma do outro. Vou é minar a arma do outro com todos os elementos possíveis do meu texto. Invento outro texto. Interfiro, desescrevo para que conquiste a partir do instrumento de escrita um texto escrito meu, da minha identidade. Os personagens do meu texto têm de se movimentar como no outro texto inicial. Têm de cantar. Dançar. Em suma temos de ser nós.‘Nós mesmos’. Assim reforço a identidade com a literatura.

Só que agora porque o meu espaço e tempo foi agredido, para defender por vezes dessituo do espaço e tempo o tempo mais total. O mundo não sou eu só. O mundo somos nós e os outros. E quando a minha literatura transborda a minha identidade é arma de luta e deve ser ação de interferir no mundo total para que se conquiste então o mundo universal.

Escrever então é viver.
Escrever assim é lutar.

Literatura e identidade. Princípio e fim. Transformador. Dinâmico. Nunca estático para que além da defesa de mim me reconheça sempre que sou eu a partir de nós também para a desalienação do outro até que um dia e virá “os portos do mundo sejam portos de todo o mundo”.

Até lá não se espantem. É quase natural que eu escreva também ódio por amor ao amor.





Manuel Rui Alves Monteiro (Huambo, 1941) é um escritor angolano. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra onde foi também membro fundador do Centro de Estudos Jurídicos. Poeta, ficcionista, ensaísta e cronista, entre as suas obras possui textos traduzidos para diversas línguas, entre elas, tcheco, servo-croata, romeno, russo, árabe e hebraico. Tem colaboração em diversos jornais e revistas lusófonos, entre os quais, o jornal O Público e o Jornal de Letras. Foi Ministro da Comunicação Social do Governo de transição que antecedeu a independência de Angola, Diretor do Departamento de Orientação Revolucionária e do Departamento de Relações Exteriores do M.P.L.A. É autor da letra do primeiro Hino Nacional de Angola e de outros hinos como o “Hino da Alfabetização, “Hino da Agricultura” e versão angolana da “Internacional”. Também é autor de canções com parcerias como Rui Mingas, André Mingas, Paulo de Carvalho e Carlos do Carmo (Portugal) e Martinho da Vila (Brasil), entre outros. Da sua vastíssima obra destacam-se os últimos títulos: «O Manequim e o Piano» (2005) e «Estórias de Conversa» (2006)  «Quem me dera ser onda» (1989).

* Manuel Rui: Eu e o outro – o invasor ou em poucas três linhas uma maneira de pensar o texto. Comunicação apresentada no Encontro Perfil da Literatura Negra. São Paulo, Brasil, 23/05/1985.

Olhar Negro: Esmeralda Ribeiro

Naufragam fragmentos
de mim
sob o poente
mas,
vou me recompondo
com o Sol
nascente,

Tem
Pe
Da
Ços

mas,
diante da vítrea lâmina
do espelho,
vou
refazendo em mim
o que é belo

Naufragam fragmentos
de mim
na coca
mas, junto os cacos, reinvento
sinto o perfume
de um novo tempo,

Fragmentos
de mim
dilue-se na cachaça
mas,
pouco a pouco,
me refaço e me afasto
do danoso líquido
venenoso

Tem
Pe
Da
Ços

tem
empilhados nas prisões,
mas
vou determinando
meus passos para sair
dos porões

tem
fragmentos
no feminismo procurando
meu próprio olhar,
mas vou seguindo
com a certeza de sempre ser
mulher

Tem
Pe
Da
Ços

Mas
não desisto
vou
atravessando o meu oceano
vou
navegando
vou
buscando meu
olhar negro
perdido no azul do tempo
vou
vôo,[1]






ESMERALDA RIBEIRO nasceu em São Paulo/SP, em 1958. É Jornalista e faz parte do Quilombhoje. Atua no sentido de incentivar a participação da mulher negra na literatura.
Obra individual:  Malungos e Milongas. São Paulo: Ed. da Autora, 1988 (conto).



[1] RIBEIRO, Esmeralda. Olhar negro. In: QUILOMBHOJE. Cadernos Negros: os melhores poemas.